
No primeiro dia do encontro “O Caminho do Sertão. De Sagarana ao Grande Sertão: Veredas”, a manhã foi para recepcionar os caminhantes e no período da tarde houveram várias atividades na Geodésica do Cresertão, dentre ela a leitura de uma poesia de autoria de Nísio Miranda. O texto foi interpretado pelo artista Abder Paz. Confira as fotos e o poema.
À Guisa de um Guia para o “Caminho do Sertão: de Sagarana ao Grande Sertão: Veredas”
(Por todos os caminhos, caminhadas e caminhantes em que podemos crer)
Caminheiro, ao caminhares,
além do que vês – caminho –
encontrarás, no sertão,
o teu ninho e o teu
Da imensidão resoluto
do sertão, a contemplar,
a intrigante questão
“de onde viemos, que somos?”
de tua alma assuntará:
Em qual caminho,
em qual vereda,
minha travessia se dará?
Quanto vale o que carrego,
quanto tenho a partilhar?
Quando encontrarei sossego,
quando angústia e esperança,
sussurros de alémmundo,
diálogo ou um profundo
silêncio a me perscrutar?
Na tua roseana jornada,
de uma obra a outra,
a estrada te dará,
do lume, o excerto,
de transcenderes
o simples “de onde partir
Nada é óbvio ou banal.
Da paisagem retorcida em
caules de árida vida,
por ti, só, perceberás
que ali é que aflora a essência
da fortaleza e da paciência
do sertanejo e dos rios.
Tua sombra, poeira e sol,
pavimentando a estrada,
a provocarte a querença
para a escuta generosa
de tudo o que sabe a utopia
na profusão do arrebol,
te farão forte, o bastante,
pra promover um levante
e resgatar o sertão
(o infinito sertão de Rosa)
que dentro de ti se encerra.
Saberás, ao fim dos passos
que não há mais fortes laços
dos que se constroem
na sanha
de resistir e amar;
de ser herói e bandido,
sendo palhaço ou mendigo,
um andarilho ou doutor,
cultuando as nobres artes,
saber línguas e verdades,
mas benzerse na humildade
dos que laboram a esperança.
Vislumbrar o próprio umbigo,
mas também a aliança
que faz de nós um só corpo
no uno e na alteridade,
no todo ou no singular.
Saberás, ao fim de tudo
caminhante embevecido
pela ascensão do andar
que o sertão fazse mundo
e está aqui e acolá,
ou bem dentro de nós
do que, de Deus, em nós, há.
Teus caminhos, passos meus,
de braços dados com a história
como um Quixote sem glória,
dúbio, descrente, a vagar –
revelarão a maior
das forças que (em vão?)
nos movem agora
e um sábio já versejara:
“Caminheiro, não há caminho.
O caminho se faz ao caminhar…”