
Com a proposta de reviver, rememorar por meio das palavras, imagens e sons, viemos hoje, depois de um mês após a realização da travessia “O caminho do sertão. De Sagarana ao Grande Sertão: Veredas” trazer várias narrativas, representando diversos olhares. A sensibilidade de cada caminhante poderá ser percebida com a delicadeza da poesia que existe na obra de Guimarães Rosa e a da força do povo sertanejo.
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Você também está convidado a se manifestar e a entrar no universo roseano vivido pelos caminhantes no Noroeste de Minas Gerais.
Hoje, começaremos com um texto de Everardo de Aguiar Lopes
“Porque eu só preciso de pés livres, de mãos dadas, e de olhos bem abertos” (Guimarães Rosa).
UM OLHAR SOBRE A CAMINHADA E NÃO SOBRE O CAMINHO!
Por Everardo de Aguiar Lopes
O primeiro dia!
Falar da ansiedade que tomou conta de mim na noite anterior ao início da caminhada, falar da coragem de levantar ainda no escuro, com frio, para andar 31 KM, falar dos desafios de fazer parte de uma história que não sonhei, escolher o cajado fortalecendo o simbólico e com o pé no chão digo só pra mim, preciso do seu apoio, falar das dores do meu corpo, que com a minha intuição provoquei, falar das alegrias de ver pela milésima vez um casal de araras coloridas cruzar o céu azul, e com o seu canto desafiador cortar o silêncio do sertão, falar para um amigo que está ao meu lado como se fosse pela primeira vez, andar, andar, andar, falar do preparar a mochila, não esquecer o protetor solar, o protetor labial, o papel higiênico, falar do tênis, da sandália, da barraca, das mudas de roupas, do estar preso aos mínimos detalhas do primeiro dia da caminhada é desafiar a memória, mas, vamos lá!!!
Parece que tudo é igual, mais logo na primeira parada percebo que nada vai ser igual. A água parece que é mais gostosa do que a que tomo todos os dias, o chup chup é uma maravilha, o esperar aqui tem outro significado, passa a ser UNIR, JUNTAR O POVO. Passar pelas cercas de arame ainda é um desafio, é preciso me retorcer, é preciso que alguém me ajude, é preciso compreender essas cercas demarcando tantas terras sem ninguém. Ando, ando, ando, sinto o sol, olho para os lados, a paisagem já toma conta do meu coração, começo a ganhar uma outra dimensão daquilo que ouvia falar, ou ler com a percepção limitada do estar parado, e, agora o sentir da expansão do ver, do olhar andando, andando com os meus próprios pés, tem o significado do amor, das contradições, da empatia, das entranhas perdidas!!!
Ando, ando, ando, converso, converso como se fosse a última vez a te ver, mas não, é a primeira vez que te vejo, que te peço água, é a primeira vez que andamos juntos a pé por tanto tempo, é a primeira vez que juntos à tanto tempo de vida, andamos juntos, tão juntos de uma realidade dura e bela, forte e sensível, imensa mais que cabe em meu coração!
Ando, ando, ando, até chegar e receber a água do Rio Urucuia, lavar o rosto, os braços, a nuca e graciosamente receber a toalha para enxugar o meu rosto e generosamente receber o seu abraço e me oferecer o almoço. Aqui me misturo a vida modesta do sertanejo do Grande Sertão: Veredas.
Surpreendido com o acolhimento, a música, o canto e a fala de boas vindas, digo faz de mim seu filho adotado com mesma dimensão dos filh@s do sertão!
O cansaço fica bem pequeno, as conversas se misturam, assim, como as pessoas, as surpresas mesmo para aqueles que já viveram experiências parecidas, não param de acontecer, a folia, a palestra, a comida, tudo parecia que me jogava para alto, a confiança toma conta mim.

No primeiro dia da travessia os caminhantes, prontos com seus apetrechos de caminhada, mal sabiam o que os aguadava… Era muito chão, 31km. Muitas experiências ao longo do caminho. Foto: Mídia Ninja

A saída de Sagarana foi tranquila. A vila ainda adormecia quando os caminhantes se aventuraram na travessia. Foto: Mariana Cabral

A caminhada era longa. O sol quente e o calor intenso incomodavam. Aí sempre havia uma parada estratégica. Foto: Lidyane Ponciano.

E nessas paradas estratégicas rápidas, vez por outra, havia um chup chup pra refrescar. Foto: Guilherme Mamede

Mas havia aquele momento em que a parada final do primeiro dia nunca chegava. A exaustão já tomava conta de alguns. Foto: Lidyane Ponciano.

E depois de cuidar dos pés, da proteção da pele e de se refrescar à sombra, a caminhada continuava. Afinal eram 31km somente no primeiro dia. Foto: Lidyane Ponciano.

E novas paisagens e o modo de vida sertanejo continuavam a aparecer durante o percurso. A religiosidade sempre presente, até mesmo em lugares inusitados. Foto: Lidyane Ponciano.

A Kombi seguiu de apoio levando água e comida, além de carregar aqueles que já não mais aguentavam caminhar. Foto: Lidyane Ponciano.

Ao chegar na parada final. Exaustos, os caminhantes foram recebidos com muito carinho, com água para lavar o roso e as mãos e uma toalhinha personalizada para que pudessem se secar. Foto: Lidyane Ponciano.

Depois de se refrescarem, os caminhantes atacaram as panelas e se revigoraram com a típica comida sertaneja. Foto: Lidyane Ponciano.

Já alimentados, foram surpreendidos pela comunidade local com uma típica cantoria da região que animou a todos. Foto: Lidyane Ponciano.

Depois de tudo isso, nada melhor do que sentar às margens do Rio Urucuia para refletir sobre tudo que foi vivenciado até então. Foto: Lidyane Ponciano.

Aí chegou a hora de fazer a travessia do Rio Urucuia para o vilarejo que cerca a Igreja de Morrinhos. Local onde todos puderam tomar banho na casa de moradores e finalmente descansar. Foto: Lidyane Ponciano.

No começo do anoitecer a Igreja de Morrinhos encantava a todos. Sua simplicidade e suas características que retratavam tão bem a religiosidade do sertão. Foto: Lidyane Ponciano.

A reflexão sobre a região e a obra de Guimarães Rosa faziam parte da programação e quando escureceu, todos foram assistir a palestra de Xico Mendes.

Até os moradores de Morrinhos foram assistir a palestra de Xico Mendes. Atentos, prestavam atenção a cada detalhe. Foto: Lidyane Ponciano.

Enquanto alguns moradores assistiam a palestra de Xico Mendes, outros tinham que cuidar com carinho do futuro do sertão roseano. Amamentando com amor a nova geração que povoará a região. Foto: Lidyane Ponciano.